sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Poseidon - Introdução

Fragmento da página dedicada a Poseidon no site Theoi.
Tradução de Janilson Gomes
para ler o conteúdo na íntegra e em inglês Clique Aqui


Poseidon é deus do mar, rios, inundação e seca, terremotos e cavalos. Seu nome parece estar conectado com potos, pontos e potamos, consoante ele ser o deus do elemento fluído. (Müller, Proleg. p. 290.) Filho de Cronos e Reia (daí ele ser chamado Kronios e, por poetas latinos, Saturnius, Pind. Ol. vi. 48; Virg. Aen. v. 799.), e portanto irmão de Zeus, Hades, Hera, Héstia e Deméter, foi determinado governar o mar. (Hom. Il. xiv. 156, xv. 187, &c.; Hes. Theog, 456.) Como seus irmãos e irmãs, ele foi, após o nascimento, engolido pelo seu pai Cronos, porém vomitado de volta. (Apollod. i. 1. § 5, 2. § 1.). De acordo com outros relatos ele foi ocultado por Reia ao nascer junto a um rebanho de cordeiros, e sua mãe fingiu ter parido um jovem cavalo, o qual entregou a Cronos para ser devorado. Uma fonte no bairro de Mantineia, onde acredita-se ter esse evento ocorrido, tem seu nome derivado de “fonte dos cordeiros” ou Arne. (Paus. viii. 8. § 2.) De acordo com Tzetzes (ad Lycoph. 644) a ama de Poseidon chamava-se Arne; quando Cornos procurou por seu filho, Arne mentiu, declarando não saber onde ele estava, e daí credita-se a ela o nome da cidade. Ainda por outros relatos, foi o deus educado pelos telquines, a pedido de Reia. (Diod. v. 55.)

Nos mais antigos poemas, Poseidon é descrito, de fato, como igual a Zeus em dignidade, porém mais fraco. (Hom. Il. viii. 210, xv. 165, 186, 209; comp. xiii. 355, Od. xiii. 148.). Por isso encontramos sua ira quando Zeus, com palavras de altivez, tenta intimidá-lo; Ou melhor, ele chegou a ameaçar seu irmão maior, e uma vez conspirou com Hera e Atena para acorrentá-lo (Hom. Il. xv. 176, &c., 212, &c.; comp. i. 400.); ainda assim, por outro lado, também encontramos seu aspecto complacente e submisso a Zeus (viii. 440).

O palácio de Poseidon era nas profundezas do mar próximo a Aegea na Eubeia (xiii. 21; Od. v. 381), onde ele mantém seus cavalos com cascos de ouro e crinas de bronze. Com esses animais ele comanda uma carruagem através das ondas do mar, que se tornam calmas quando ele se aproxima, e os monstros das profundezas o reconhecem e vem brincar com seu veículo.  (Il. xiii. 27, comp. Virg. Aen. v. 817, &c., i. 147; Apollon. Rhod. iii. 1240, &c.) Geralmente ele mesmo coloca os cavalos em sua carruagem, porém em outros momentos ele é assistido por Anfitrite (Apollon. Rhod. i. 1158, iv. 1325; Eurip.Androm. 1011; Virg. Aen. v. 817.). Ainda que habitasse o mar, ele continuava a aparecer no Olimpo durante as assembleias dos deuses (Hom. II. viii. 440, xiii. 44, 352, xv. 161, 190, xx. 13.)

Poseidon, juntamente com Apolo, construíram para Laomedonte a muralha de Tróia (vii. 452; Eurip. Androm.1014), daí Tróia ser chamada Neptunia Pergama (Netuno e Poseidon sendo identificados, Ov. Fast. i. 525, Heroid. iii. 151; comp. Virg. Aen. vi. 810.) Embora ele tenha sido de outras maneiras gentil aos grego, ficou enciumado ao ver a muralha que eles construíram ao redor de seus navios, e lamentou a ingloriosa forma com a qual as muralhas que ele próprio ergueu acabaram caindo nas mãos dos gregos. (Hom. Il. xii. 17, 28, &c.) Quando Poseidon e Apollo terminaram de construir a muralha de Troia, Laomedonte recusou-se a recompensá-los da forma que estava estipulado, e ainda os demitiu com ameaças (xxi. 443); ao que Poseidon enviou um monstro marinho, que estava prestes a devorar a filha de Laomedonte, quando foi morto por Herácles. 

Por essa razão, Poseidon, assim como Hera, nutriam um ódio implacável contra os troianos, do qual nem mesmo Eneias foi poupado (Hom. Il. xx. 293, &c.; comp. Virg. Aen. v. 810; Il. xxi. 459, xxiv. 26, xx. 312, &c.). O deus do mar tomou postura ativa na guerra contra troia, lutando ao lado dos gregos, algumas vezes testemunhando a disputa como espectador dos montes da Trácia, outras vezes interferindo pessoalmente assumindo a aparência de um herói mortal e encorajando os gregos, enquanto Zeus favorecia os troianos. (Il. xiii. 12, &c., 44, &c., 209, 351, 357, 677, xiv. 136, 510.) Quando Zeus permitiu que os deuses assistissem qual lado quisessem Poseidon juntou-se aos gregos, tomando parte na guerra e fazendo a terra tremer; ele opôs-se a Apolo, quem, contudo, não gostava de estar lutando contra seu tio. (Il. xx. 23, 34, 57, 67, xxi. 436, &c.) Na Odisseia, Poseidon aparece como hostil a Odisseu, impedindo-o de voltar para casa como castigo por ter cegado Polifemo, filho de Poseidon com a ninfa Teosa.  (Hom. Od. i. 20, 68, v. 286, &c., 366, &c., 423, xi. 101, &e., xiii. 125; Ov.Trist. i. 2. 9.)

Como governador do mar, ele é descrito tanto causando tempestades como garantido uma viagem tranquila e salvando aqueles que estavam em perigo. Toda as outras divindades marinhas obedeciam a ele. Uma vez que o mar circunda e contem a terra, ele é descrito também como o deus que segura a terra (gaiêochos), e aquele que tem o poder de balançá-la (enosichtôn, kinêtêr gás).

Ele era ainda considerado o criador dos cavalos, e acredita-se que ele tenha ensinado aos homens a arte de dominar esses animais com a rédea, e ser o protetor e criador das corridas de cavalos. (Hom. Il. xxiii. 307, 584; Pind. Pyth. vi.50 ; Soph. Oed. Col. 712, &c.) Por isso ele também é representado no dorso de um cavalo, ou comandando uma carruagem puxada por dois ou quatros equinos, sendo designado nessas ocasiões pelo epíteto hippios, ippeios ou hippios anax.  (Paus. i. 30. § 4, viii. 25. § 5, vi. 20. § 8, viii. 37. § 7 ; Eurip.Phoen. 1707; comp. Liv. i. 9, onde ele é chamado equester.) Como consequência da sua conexão com os cavalos, ele era considerado amigo dos cocheiros (Pind. Ol. i. 63, &c.; Tzetz. ad Lyc. 156), e ele mesmo transformou-se em um garanhão, com fim de enganar Deméter. 

A tradição comum sobre Poseidon ser o criador dos cavalos é a seguinte: quando Poseidon e Atena disputaram qual deles iria nomear a capital da Ática, os deuses decidiram que deveria ser aquele que desse aos homens o presente mais útil. Poseidon criou o cavalo e Atena criou a oliveira, de tal forma que a capital da Ática passou a se chamar Atenas. (Serv. ad Virg. Georg. i. 12.) Já de acordo com outros, Poseidon não criou o animal na Ática, mas sim na Tessália, onde ele também deu a Peleu seus famosos cavalos. (Lucan, Phars. vi. 396, &c.; Hom. Il. xxiii. 277; Apollod. iii. 13. § 5.)

O símbolo do poder de Poseidon era um tridente, ou uma lança de três pontas, que ele usava para destruir rochas, convocar ou dissipar tempestades, tremer a terra e outras coisas mais. Heródoto (ii. 50, iv. 188) atesta que o nome e o culto a Poseidon foi importado pelos gregos da Líbia, mas que provavelmente ele era uma divindade de origem pelasgas, e originalmente uma personificação do poder fertilizador da água, daí a transição para deus do mar não foi difícil. 

É notável como as lendas desse Deus estão ligadas com a disputa pela posse de certos países com outros Deuses. Aquela onde ele, na disputa por Ática, finca seu tridente no chão da acrópole, fazendo surgir uma fonte de água do mar e inundando a cidade, após ter perdido-a para Atena que a recebeu dos deuses após ter criado a oliveira. (Herod. viii. 55; Apollod. iii. 14. § 1 ; Paus. i. 24. § 3, &c.; Hygin. Fab. 164.). Também com Atena ele disputou a posse de Trezena, e seguindo ordens de Zeus dividiu com ela a cidade. (Paus. ii. 30. § 6). Com Hélio ele disputou a soberania sobre Coríntio, ficando com ele a cidade e o istmo, e indo a acrópole para Hélio. (ii. 1. § 6.) Disputou a posse da Argólida com Hera, sendo decido por Inácio, Cefiso e Astério que a posse iria para a Deusa. Como represália, Poseidon fez os rios desses deuses-rios secarem. (ii. 15. § 5, 22. § 5; Apollod. ii. 1. § 4.) Com Zeus, por último ele disputou Egina,e Naxos com Dionísio. (Plut. Sympos. ix. 6.) Por um tempo Delfos o pertenceu, juntamente à Ge, mas Apolo o deu Caularia como compensação. (Paus. ii. 33. § 2, x. 5. § 3; Apollon. Rhod. iii. 1243, with the Schol.)

Outras lendas também merecem ser mencionadas. Ao lado de Zeus ele lutou contra Cronos e os titãs. (Apollod. i. 6. § 2; Paus. i. 2. § 4.) Além disso esmagou os Centauros quando perseguiram Herácles, sob uma montanha na Leucócia, a ilha das Sereias. (Apollod. ii. 5. § 4.) Junto com Zeus ele cortejou a mão de Tétis, mas ele se retirou quando Têmis profetizou que o filho de Tétis seria mais poderoso que seu pai. (Apollod. iii. 13. § 5; Tzetz. ad Lyc. 178.) Quando Ares foi capturado na rede de Hefesto, foi Poseidon que pediu por sua soltura (Hom.Od. viii. 344, &c.) porém o Deus do Mar levou Ares à julgamento no Aeropago, pelo Deus da Guerra ter matado seu filho Halirrhothius (Apollod. iii. 14. § 2.). A pedido de Minos, rei de Creta Poseidon fez surgir do mar um boi, que foi prometido a sacrifício pelo rei; porém Minos traiçoeiramente escondeu o animal entre um rebanho de carneiros, o Deus puniu Minos fazendo com que sua filha Pasífae se apaixonasse pelo boi. (Apollod. iii. § 3, &c.) Periclimeno, que era ou um filho ou um neto de Poseidon, recebeu dele o poder de assumir várias formas. (i. 9. § 9, iii. 6. § 8.).

Poseidon era casado com Anfitrite, com quem ele teve três filhos, Tritão, Rode e Benthesicyme (Hes. Theog. 930; Apollod. i. 4. § 6, iii. 15. § 4); porém ele possuía além desses um vasto número de filhos com outras divindades e mortais.

Ele é mencionado por uma variedade de sobrenomes, tanto em alusão às lendas que contam , quanto à sua natureza de Deus do mar. Seu culto era presente em toda a Grécia e sul da Itália, sendo especialmente reverenciado no Peloponeso (onde é chamado oikêtêrion Poseidônos) e nas cidades costeiras de Ionic. Os sacrifícios a ele oferecidos geralmente eram bois brancos e pretos (Hom. Od. iii. 6, Il. xx. 404; Pind. Ol. xiii. 98; Virg. Aen. v. 237); ainda que javalis e carneiros selvagens também fossem sacrificados. (Hom. Od. xi. 130, &c., xxiii. 277; Virg. Aen. iii. 119.) Na Argólida cavalos com cabresto eram atirados da fonte Deine, em forma de sacrifício (Paus. viii. 7. § 2), e corridas de carruagens e cavalos eram celebradas em sua honra no istmo de Coríntio (Pind. Nem. v. 66, &c.). A Panionia, ou o festival de todos os inoanos próximo a Mycale, era celebrado em honra a Poseidon. (Herod. i. 148.)

Na arte Poseidon pode ser facilmente reconhecido pelos seus atributos, o golfinho, o cavalo ou o tridente (Paus. x. 36. § 4) e ele era frequentemente representado em grupo com Anfitrite, nereiádes, golfinhos, os Dióscuros, Palemon, Pégaso, Belerofonte, Tálassa, Ino e Galeno (Paus. ii. 1. § 7.). Sua figura não apresenta a calma majestosa que caracteriza seu irmão Zeus. As estatuas, assim como o mar, apresentam ora o Deus em uma violenta agitação, ora em repouso. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Politeísmo Redux

Nota do Editor: O texto a seguir apresenta uma breve síntese de um debate recente que se desenvolveu na comunidade "pagã" anglófona que teve como foco especulações sobre um saber teológico pagão. Entre posições e controvérsias Johb Beckett, ainda que não seja helênico, oferece uma contribuição para esse debate através de uma abordagem bastante similar àquela atualmente usada pelo reconstrucionismo helênico ao entender os deuses como agentes, seres individuais e potências vivas - não como elementos da natureza (ainda que se relacionem com ele), ou macroestruturas abstratas. A maneira de escrever é bastante despojada e em certo sentido, telegráfica; leituras indicadas e demais componentes que integram o debate também podem ser acompanhados com os links em língua inglesa. A todas e todos, uma boa leitura.


POLITEÍSMO REDUX

por John Beckett
tradução de Josie Machado.
Clique aqui para ler o texto em inglês

Eu gastei a tarde de ontem trabalhando em um comentário sobre como o sucesso de minha abordagem "temas não objetivos" significa que eu agora estou definindo objetivos para 2014. Mas antes de conseguir terminá-lo, houve uma onda de comentários sobre teologia politeísta e sinto a necessidade de responder.

A maior parte desta discussão é controversa e tornou-se pessoal. Se você quiser entendê-la, leia esse comentários escrito por Morpheus Ravenna, esse por Rhyd Wildermuth, esse por Alison Lilly, esse por Traci Laird, esse por Anomalous Thracian, e o mais recente comentário de Morpheus Ravenna. Existem outros que não linkei e os que estão a caminho. São leituras instigantes se você dispor de tempo para apreciá-las.

Eu considero todas essas pessoas amigos de uma forma ou de outra. Lamento que as coisas tenham se tornado pessoais, mas é bom termos este debate. O Paganismo ainda é uma religião nova e nós ainda tentamos descobrir nossa teologia... ou melhor, nossas teologias. Melhor trabalharmos esse debate com participação em massa pela internet do que 300 bispos (de 1800 convidados) escondidos em algum lugar, tentando decidir o que irá tornar-se a ortodoxia para os próximos dois milênios.

A seguir, minha opinião sobre o assunto.

Há muitas opiniões sobre a natureza e substância dos Deuses. Qual é a correta? Tudo o que podemos dizer com certeza é "nós não sabemos". E isso significa que a única coisas que é errada - a única coisa que me fará subir em uma mesa e gritar "não, isso não está certo!" - é não deixar espaço para mistério. Por mistério, quero dizer incerteza, não o conhecimento subjetivo que vem através de experiências místicas.... apesar de qualquer religião que não deixe espaço para esse tipo de mistério seja inútil para mim, mesmo que não seja objetivamente errado.

Esta é a primeira regra da teologia: Nós não sabemos. Não existe regra  número dois. Isso não significa que a teologia seja inútil e que todas as respostas sejam igualmente úteis. Significa que praticar teologia requer humildade e abertura... e uma boa dose de curiosidade também ajuda.

O que há de errado subjetivamente (i.e. - Estou convencido de que não é certo mas, ler regra #1 acima) é tentar forçar os Deuses em um modelo naturalista que assume que os Deuses de nossos antepassados não possam existir realmente, distintos, seres individuais. Parece que toda vez que discuto minhas relações com os Deuses - Especialmente quando Eles querem que eu faça algo - alguém me responde com "mas você sabe que tudo isso está dentro da sua cabeça, certo?"  Ou "Deuses são mitos e metáforas." Ou ainda, "Você está tornando humano algo que não é humano!"Essas teorias são todas válidas e eu as respeito, embora não concorde com elas.

O que eu acho preocupante é a noção subjacente de que desde a Ciência (o árbitro da realidade na sociedade ocidental contemporânea) não tem nenhuma explicação para Deuses como realidade, distintos e seres individuais não podem existir, e achar que o que Eles fazem é auto-ilusão. Acho irônico que algumas das mesmas pessoas que criticam duramente politeístas por lidar com os deuses em forma humana comprem a ideia (subconscientemente, se não conscientemente) que a cosmovisão humana atualmente popular é sem dúvida correta: que, se nós, humanos, não termos todas as respostas, pelo menos temos a verdadeira maneira de encontrar todas as respostas. (Eu sou engenheiro. Eu amo ciência. Ela nos trouxe descobertas surpreendentes e melhorou nossos padrões de vida. E também nos trouxe resíduos nucleares, armas químicas e (FRANKING). A ciência é uma ótima ferramenta, uma filosofia ruim e uma religião prejudicial.)

Você cultua Poseidon ou cultua o Mar? Ao longe ouço Poseidon rugindo como Davy Jones em Piratas do Caribe. "EU SOU O MAR!" Talvez. Mas Poseidon tem uma história, várias histórias, uma personalidade. O Mar tem outras. Poseidon ouve orações e aceita ofertas - ou não, como Ele preferir. O mar simplesmente é. Ambos são maravilhosos e poderosos, e eu os admiro. Me parece razoável adorar ambos. Mas por Poseidon ter qualidades humanas (que não é o mesmo que acreditar que "os deuses são como os seres humanos só que maiores") posso me relacionar com ele de forma diferente de como eu posso me relacionar com o mar. A religião baseada em relacionamentos mutuamente benéficos com Divindades com qualidades semelhantes às humanas necessita de um olhar e sentimento diferentes da religião baseada no benefício mutuo entre o mundo Natural. Mas existe claramente um espaço para ambos na Grande Tenda do Paganismo, bem como espaço para ambos no canto do politeísmo.

Parece haver um argumento desnecessário sobre o que constitui um politeísta. Um politeísta é alguém que tem conhecimento de múltiplos Deuses. Eu não vejo necessidade de refinar mais que isso. Se você disser "eu sou um politeísta: Eu adoro a terra, o céu e o mar", então eu não tenho nenhum argumento contra você, mesmo que sua abordagem não seja suficiente para mim.

Alison Lilly reclama que algumas pessoas acusam de ateísmo por ter tal abordagem. Eu acho que sua queixa é válida. Há um precedente histórico para este ponto de vista - alguns acusaram os primeiros cristãos de ateísmo, pois eles negaram a realidade dos deuses greco-romanos. Mas essa visão era e continua errada. Ateísmo é a negação de todos os deuses, não a negação de seus deuses.

Chega com as nuances e incertezas do politeísmo. Aqui está o que eu acredito. Eu acredito que os deuses são reais, distintos, seres individuais pois é assim que eu tive experiências com Eles. Minha experiência com Isis é diferente da minha experiência com Cernunnos e diferente da experiência com Morrigan e assim vai. E todas elas foram diferentes das minhas experiências de meus próprios pensamentos e sentimentos.

Quanto mais eu conheço os Deuses como indivíduos - mais eu oro, adoro, medito, faço ofertas e principalmente mais ouço-Os - mais sua realidade é evidente para mim e mais significante se torna minha vida. O conhecimento subjetivo que ganho supera em muito minha falta de conhecimento objetivo.

E aqueles que têm uma visão psicológica dos Deuses, ou uma visão metafórica, o uma visão naturalista? Eu sou um Universalista Unitário, bem como um pagão e um druida - Eu vou julgar suas crenças baseadas em quão bem eles te motivam a viver uma vida significativa, compassiva e útil, não sobre a forma como eles combinam com as minhas crenças. Mas o fatos de suas crenças serem úteis para você não significa que eu acho seus argumentos persuasivos. A ideia que eu tenho visto sendo enfatizada em todos os comentários recentes é que os Deuses têm agências. Eles têm os seus próprios pensamentos, próprias ideias, sua própria vontade e talvez mais importante, os seus próprios interesses e áreas de responsabilidade. Isto é importante. A ideia de que os deuses estão aqui "por nós" - seja como terapeutas ou treinadores ou pais alados divinos - é decididamente inútil. Sim, Deuses as vezes chamam um humano em seu serviço - eu experimentei tal chamada. Mas o meu sacerdócio não é sobre mim, e sim sobre eles. Trata-se de transmitir suas mensagens e fazer o seu trabalho.

Honrar os Deuses como seres reais, distintos e individuais me lembra que, em última análise, a vida não é tudo sobre mim. Existe algo maior, mais forte e mais sábio, e minha vida é melhor quando ligada à alguma coisa - ligada à Eles. Embora eu seja responsável pela minha própria vida, faço um trabalho melhor e sirvo à um bem maior, quando trabalho com Eles.

Eu tenho que saber se talvez essa enxurrada de comentários politeológicos não seja simplesmente casos pagãos centrados em divindade ou centrados na natureza mal-entendidos entre si. Minha esperança é que a troca tenha informado e esclarecido tudo, e que nossa compreensão dos Deuses e do outro tenham crescido. Agora, se vocês me dão licença, é hora da orações da noite.

Hefesto: Introdução

do site Theoi, com tradução de Janilson Gomes.
Para ler o texto em inglês clique aqui.




Hefesto, o deus do fogo, era, de acordo com Homero, filho de Zeus e Hera (Il. i. 578, xiv. 338, xviii. 396, xxi. 332, Od. Viii. 312.) Antigas tradições afirmam que ele não tinha pai, e que Hera o concebeu sem Zeus, por ciúmes à conceição de Atena por Zeus, sem ela. (Apollod. i. 3. parágrafo 5; Hygin. Fab. Praef.) No entanto essa versão é contrária a história comum na qual Hefesto cindiu a cabeça de Zeus, e o ajudou no nascimento de Atena. Uma interpretação mais recente da antiga tradição diz que Hefesto pulou da coxa de Hera, e que sua filiação foi mantida em segredo. Com intuito de descobrir seu parentesco ele recorreu a um estratagema. Hefesto construiu uma cadeira na qual quem sentasse ficaria preso, e assim aprisionou Hera, e se recusou a libertá-la até que ela dissesse quem eram seus pais. (Serv. ad. Aen. vii. 454, Eclog. iv. 62.) Para mais informações sobre sua origem: Cícero (de Nat. Deor. iii. 22), Pausanias (viii. 53. parágrafo 2º). E Estathius (ad Hom. p. 987).

Hefesto é o deus do fogo, especialmente o fogo que se manifesta como um poder da natureza nas zonas vulcânicas, e na medida em que é indispensável para a arte e manufaturas; daí que o fogo é chamado o fôlego de Hefesto, e o nome do deus era usado pelos poetas Gregos e Romanos como sinônimo para fogo. Assim como as chamas surgem de uma pequena faísca, também nasceu o deus do fogo delicado e enfraquecido. Razão pela qual sua mãe nutria por ele tão profunda antipatia que quis se livrar dele jogando-o do Olimpo. Porém as divindades marinhas, Tétis e Eurínome, o acolheram, e com elas ele habitou por nove anos em uma gruta, cercado por Oceano, fazendo para elas uma variedades de ornamentos. (Hom. Il. xviii. 394, &c.) Foi durante esse período, de acordo com alguns relatos, que ele fez a cadeira na qual puniu sua mãe por sua carência de afeto, e da qual não a libertou até que ser convencido por Dionísio. (Paus. i. 20. parágrafo 2; Hygin. Fab. 166.)

Ainda que Hefesto se lembrasse da crueldade de sua mãe, ele era gentil e obediente a ela, ou melhor, uma vez ela estava discutindo com Zeus e ele tomou seu partido na discussão, e assim ofendeu tanto seu pai que ele o agarrou pela perna e o atirou do Olimpo. Hefesto passou um dia inteiro caindo, e ao anoitecer chegou a ilha de Lemnos, onde foi gentilmente recebido pelos Síntios. (Hom. Il. i. 590, &c. Val. Flacc. ii. 8.5; Apollod. i. 3. parágrafo 5, que, entretanto, confunde as duas ocasiões onde Hefesto foi atirado do Olimpo.) Antigos escritores atribuem sua coxeadura a essa segunda queda, enquanto Homero o atribui desde o nascimento.

Após sua segunda queda ele retornou ao Olimpo, e atuou como mediador entre os pais. (Il i. 585.) Nessa ocasião ele ofereceu uma taça de néctar para sua mãe e para os outros deuses, que irromperam em uma risada sem moderação ao vê-lo mancando apressado pelo Olimpo de um deus a outro, pois ele era feio e lento, e, devido a fraqueza de suas pernas, quando andava era sustentado por suportes artificiais, habilmente feitos de ouro. (Il. xviii. 410, &c., Od. viii. 311, 330.) Seu pescoço e seu peito, entretanto, eram fortes e musculosos. (Il. xviii. 415, xx. 36.)

No Olimpo, Hefesto possuía seu próprio palácio, imperecível e brilhante como as estrelas: nele estava sua oficina, com a bigorna e vinte foles, que trabalhavam espontaneamente ao seu comando. (Il. xvii. 370, &c.) Foi lá que ele fez todos seus belos e maravilhosos trabalhos, utensílios e armas, para deuses e para homens. Os antigos poetas e mitografos são abundantes em passagens descrevendo trabalhos de requintado artesanato que foram manufaturados por Hefesto. Em antigos relatos, os ciclopes Brontes, Estéropes, Arges e outros eram seus operários e servos e sua oficina não é mais representada no Olimpo e sim no interior de alguma ilha vulcânica. (Virg. Aen. viii. 416, &c)

A esposa de Hefesto também vivia em seu palácio: na Ilíada ela é chamada Carite, na Odisseia Afrodite (Il. xviii. 382, Od. viii. 270), e na Teogonia (945) seu nome é Aglaia, a mais jovem das Charites. A historia da infidelidade de Afrodite para com seu marido, e a maneira na qual foi surpreendida por ele é requintadamente descrita na Odisseia (Od. viii. 266-358.). O poema homérico não menciona nenhum descendente de Hefesto, porém em antigos escritos o número de filhos seus era considerável. Na guerra de Troia ele esteve ao lado dos Gregos, porém também era cultuado em Tróia, e em uma ocasião salvou um troiano de ser morto por Diomedes. (Il. v. 9 &c.)

Seu lugar favorito na terra era a ilha de Lemnos, onde ele gostava de viver entre os Síntios (Od. viii. 283, &c., Il. i. 593; Ov Fast. viii. 82); porém outras ilhas vulcânicas também, como Lípara, Hiera, Imbros (hoje Gökçeada) e Sicília eram chamadas de suas moradas e oficinas. (Apollon. Rhod iii. 41; Callim. Hymn. in Dian. 47; Serv. ad Aen. viii. 416; Strab. p. 275; Plin. H. N. iii. 9; Val. Flacc. ii. 96.)

Hefesto é para os deuses como Atena é para as deusas, por, como ela, dar a artistas mortais habilidade, e, junto com ela, foi atribuído a ele o ensinamento aos homens das artes que embelezam e enfeitam a vida. (Od. vi. 233, xxiii. 160. Hymn. in Vaulc. 2. &c.) Porém ele não possuía o caráter sublime de Atena. Em Atenas os dois partilhavam templos e festivais em comum. (Ver: Dict of Ant. s. v.Hêphaisteia, Chalkeia.) A ambos eram atribuídos poderes curativos, e a terra de Lêmnian, no lugar em que ele caiu, curava a loucura, picadas e cobras e hemorragias, e os sacerdotes do Deus sabiam como curar ferimentos provocados por serpentes. (Philostr. Heroic. v. 2; Eustath. ad Hom. p. 330; Dict. Cret. ii. 14.)

Os epítetos e sobrenomes pelos quais Hefesto era designado pelos poetas geralmente fazem alusão a sua habilidade com artes plásticas, a sua compleição física e aleijamento.

No templo de Atena Khalkioikos em Esparta, ele era representado no ato de libertar sua mãe (Paus. iii. 17. § 3). No peito de Cípselo, dando a Tétis a armadura de Aquiles (v. 19. Parágrafo 2); e em Atenas havia uma famosa estátua feita por Alcamanes, na qual sua deformação era sutilmente indicada. (Cic. de Nat. Deor. i. 30; Val. Max. viii. 11. § 3.). Os gregos frequentemente colocavam uma pequena estátua em formato de anão próximo à lareira, sendo estas representações as mais antigas. (Herod. iii. 37; Aristoph. Av. 436; Callim. Hymnn. in Dian. 60.). Durante o melhor período da arte grega, ele foi representado como um vigoroso homem barbudo, e caracterizado pelo seu martelo ou outro tipo de instrumento, boné oval, e chiton deixando amostra seu ombro e braço direito.